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ARQUITETURA Igrejas

Por aí: exposição Gaudí – Barcelona, 1900

Olá pessoal. Tudo bem?

“A primeira qualidade que um objeto deve ter para ser belo é que ele cumpra a função a que está destinado, […] visando alcançar uma solução que atenda às condições materiais do objeto, seu uso e caráter. Uma vez encontradas as boas soluções, deve-se tomar a solução mais adequada para o objeto, de onde se deduz que é preciso atender ao uso, ao caráter e as condições físicas. O uso, pode-se dizer, é a razão da crianção do objeto, o caráter é a definição das circunstâncias estético-morais, e as condições físicas são as que respondem a questões de durabilidade, conservação, etc” (Antoni Gaudí: Manuscrito sobre Ornamentação, 1878.)

No dia 5 de fevereiro, o GiveMe Design foi conferir a exposição “Gaudí: Barcelona, 1900”, trazida à São Paulo pelo Instituto Tomie Ohtake (depois faremos um post especial sobre o Instituto) em homenagem aos 90 anos da morte desse grande arquiteto catalão. A exposição veio para São Paulo, no dia 20 de novembro de 2016, e – infelizmente para quem não conseguiu visitar – encerrou suas atividades, exatamente no dia 5 de fevereiro de 2017.

A exposição, em si, se resumiu a duas salas, uma que mostrava outros artistas que, assim como Gaudí, marcaram o mundo da arte e desenvolveram suas atividades em Barcelona, como, por exemplo: Modest Urgell, Rusínol, Ramón Casas e Isidre Nonell. Já a outra sala trazia a história e obras de Gaudí, e é para ele que vamos dar todo o destaque desse post. Então, vamos lá?

Antoni Plàcid et Guillem Gaudí i Cornet nasceu em 1852, no sul da Catalunha, mais precisamente em Reus:

Sua família praticava a funilaria por gerações e isso foi muito importante para a sua formação. Gaudí tinha um grande amor pela natureza e um espírito de observação, desde a infância. Formou-se em arquitetura, no ano de 1878, pela Escuela Provincial de Arquitectura de Barcelona. Além disso, Gaudí ganhou bastante experiência trabalhando em alguns escritórios de arquitetura, como o de Josep Fontseré, Francesc de Pala Villar e Joan Martorell.

O arquiteto acreditava que as escolhas dos elementos construtivos deveriam corresponder a função estética pedida pela estrutura, por isso dedicou-se a compreender as tipologias estruturais e as técnicas de construção, ao mesmo tempo, busca inspiração na paisagem, vegetação mediterrânea, tradição e caráter marítimo de sua cidade. Os seus primeiros projetos, que foram realizados durantes os anos de 1880-1890, carregam influências do estilo gótico e trazem referências aos estilos árabe e mudéjar. Porém, no decorrer dos anos, o arquiteto passa a desenvolver uma criação particular e única, fato que o torna um arquiteto singular. O que pode se observar nas obras de Gaudí é que o arquiteto, ao desenvolver suas ideias, apresenta novos conceitos arquitetônicos que até os dias de hoje poderiam ser considerados modernos, mesmo não se desprendendo da tradição.

“Originalidade é voltar a origem; de modo que original é aquele que, com novos meios, volta à simplicidade das primeiras soluções. Portanto, é original resolver a simplíssima basílica com a complexidade da estabilidade individual das abóbodas.” (Gaudí)

Gaudí traz para sua arquitetura elementos que remontam ao sagrado, esses elementos podem tanto ser explícitos quanto implícitos, mas quase todos os seus edifícios possuem algo religioso, até mesmo as propriedades privadas, como é o caso da Casa Milà, Casa Batlló, Casa Calvet, etc. Outra questão fortemente presente em seus projetos é a geometria, para o arquiteto, a geometria simplifica o processo construtivo, por isso utilizada soluções que aliam novos materiais com cálculos engenhosos, que se transpõem em uma arquitetura que pertence à uma geometria analítica no lugar de uma geometria elementar. Foi através desse conhecimento profundo da geometria e da estrutura que Gaudí, com o projeto da igreja da Colônia Guell, fez uma experiência engenhosa e inovadora: utilizando um barbante, o arquiteto o pregava em dois pontos da planta baixa e depois pendurava alguns saquinhos com pesos de chumbo. A ideia era representar o peso recebido por compressão na catenária, que se deformada, chegando a uma forma final. Depois de realizar esse processo, o arquiteto tirava uma foto do elemento e depois colocava a fotografia de ponta cabeça para ver a forma final do edifício.

Além da religião e da geometria, a natureza para Gaudí era um fator importantíssimo e que aparece em todas as suas obras, visto que, a natureza faz parte da vida de Gaudí. Por conta do reumatismo que teve desde a infância, sentia muitas dores e, por isso, muitas vezes não conseguia brincar com seus amigos. Esse fato, porém, estimulou sua observação e o aproximou da natureza. “Existem duas revelações: uma é a dos princípios da moral e da religião; a outra, que guia os fatos, é a do grande livro da natureza”. (Gaudí)

Outro ponto muito interessante na criação das obras de Gaudí e a importância que ele dá para as cores, sua justificativa para o uso delas faz jus ao seu talento: “A decoração foi, é e será colorida. A natureza não nos apresenta nenhum objeto monotonamente uniforme. Tudo, na vegetação, em geologia, na topografia, no reino animal, mantém sempre um contraste cromático mais ou menos vivo. E é por esse motivo que devemos colorir todo ou em parte um elemento arquitetônico; trata-se de uma cor que por vezes ficará evanescente, mas na maior parte das ocasiões isso será um modo de conferir à própria cor uma outra qualidade que lhe é característica e preciosa: a antiguidade.”

Agora que já conseguimos entender melhor as referências, métodos e inspirações de Gaudí, vamos vê-las apliacadas em suas obras:

CASA VICENS (1883-85) – BARCELONA/ESPANHA

A Casa Vicens foi a primeira residencia desenvolvida pelo arquiteto, pertencia a família do ceramista Manuel Vicens e hoje pertence ao conglomerado financeiro Mora Banc Grup, responsável hoje pelo restauro da propriedade, que foi declarada patrimônio cultural pela Unesco em 2005, e também por transformá-la em um museu, permitindo a visitação do púbico, para que as pessoas se conectem não só com a obra de Gaudí, mas com o seu legado para o desenvolvimento da Art Nouveau. Quem está a frente do projeto de restauro é o escritório Martínez Lapeña-Torres Arquitectes S.L.P. and Daw Office S.L. A Casa Vicens é o primeiro exemplo da influência da natureza que Gaudí carregava para seus projetos, tanto no exterior, quanto no interior dos edifícios.

PALAU GÜELL (1886-89) – BARCELONA/ESPANHA

O palácio pertencia a Eusebi Guell e conta com 6 pavimentos. A arquitetura do palácio é marcada pela adoção de elementos pertencentes ao estilo gótico. A fachada, medieval, recebeu pedra, mármore e elementos decorativos de ferro forjado. O interior é todo trabalhado artesanalmente em pedra e marcenaria. Para quem tiver curiosidade de conhecer melhor o projeto, no site oficial é possível ver todas as plantas e fotos de cada cômodo, é bem interessante, também é possível ver pelo Google Street View.

CASA CALVET (1898-1904) – BARCELONA/ESPANHA

A Casa Calvet foi uma obra que rendeu ao Gaudí o prêmio de melhor edifício modernista de 1899. Trata-se de um prédio, que pertencia aos filhos do fabricante de tecidos Pedro Mártir Calvet, composto por apartamentos e lojas. A loja de tecidos ficava no subterrâneo e o térreo recebeu outros comércios e também dava acesso a loja de tecidos, o escritório e aos pavimentos dos apartamentos (dois por andar). Recebe na fachada principal pedra polida e arenito, e na posterior, tijolos decorados, já o interior é trabalhado com cerâmica colorida, com teto de madeira. É uma obra que traz referências ao estilo barroco, principalmente por conta da cobertura em cúpula e as colunas que a suportam. A planta é simétrica e retangular, com um pátio central para trazer iluminação aos espaços internos. Nessa obra também está presente as referências da natureza, como os motivos naturalísticos do teto de madeira e mobiliário interno com fragmentos de conchas e articulações ósseas.

PARC GÜELL (1900-14) – BARCELONA/ESPANHA

Com o intuito de atrair o povo burguês de Barcelona para o bairro de la Salut, o Conde Eusebi Güell idealiza a construção de uma área jardim em um terreno de 15ha. Porém, como operação econômica, o parque foi um fracasso e, por isso, em 1922, é doado ao município de Barcelona e transformado em parque público. Em 1924 vira Patrimônio Histórico da Humanidade. No projeto urbanístico, feito juntamente com Josep Maria Jujol, Gaudí previa uma área de serviços que ficava próximo ao acesso aos lotes residenciais. Os lotes eram ligados por caminhos e trilhas, além de um viaduto com pilares de pedra que lembravam troncos de árvores. A escadaria, que faz referência ao Montserrat, possui um perfil ondulado que abriga um banco revestido com cerâmica multicolorida.

CASA BATLLÓ (1904-06) – BARCELONA/ESPANHA

A casa Batlló; que rendeu à Gaudí o prêmio de melhor construção do ano em Barcelona em 1907; passou por uma reforma projetada por Gaudí para o fabricante de tecidos Josep Batlló i Casanovas. O objetivo era superar a modernidade das construções vizinhas. A fachada ondulada, recebeu mosaicos de cerâmica policromáticos. Nessa obra, Gaudí também traz os elementos com influências da natureza, como os batentes, arcos, caixilhos, balaustres, cobertura, etc. A platibanda, por exemplo, lembra escamas de peixe e os balcões lembram crânios de animais. Outro recurso muito utilizado pelo arquiteto, o ferro fundido aparece na escadaria interna e também nas balaustradas das varandas. No site oficial é possível fazer um Tour Virtual e conhecer a casa todinha! Vale a pena!

CASA MILÁ (1906-10) – BARCELONA/ESPANHA

A casa Milá, realizada por Gaudí para o proprietário Don Pedro Milá i Camps, é uma obra com dimensões notáveis distribuídas em um terreno de mil metros quadrados. Além de um caráter excêntrico, o projeto para a casa passou por uma pesquisa estrutural, com uma grande preocupação com a salubridade e eficiência dos materiais. A estrutura é feita com pedra, tijolos de barro e ferro, somente as fundações são de concreto. A fachada tem uma estrutura interna de ferro com traves metálicas curvadas, que recebem o revestimento em pedra calcária. Os gradis nessa obra também são feitos com ferro fundido, e a planta é funcional, livre de estrutura, o que permite outras configurações do espaço interno.

SAGRADA FAMÍLIA (1883-em construção) – BARCELONA/ESPANHA

A obra, ainda em andamento, da Sagrada Família consumiu a maior parte da vida de Gaudí. Em 3 de novembro de 1883, após a desistência do arquiteto Francesc de Paula Villar, Gaudí assume a direção da obra; que estava apenas com as escavações do subterrâneo feitas; e desenvolve um projeto coerente com o trabalho do arquiteto predecessor. O templo da Sagrada Família, projetado por Gaudí, possui um sistema em cruz latina e cinco naves, predominando a verticalidade. A composição arquitetônica remete aos picos do Montserrat.

Quando as obras da Sagrada Família forem concluídas, contará com 18 torres, sendo 12 delas mais baixas e dedicadas aos apóstolos, 4 médias dedicadas aos Evangelistas e as duas mais altas vão representar a Virgem Maria e Jesus. Com relação às fachadas, a única que ficou pronta enquanto o arquiteto ainda estava vivo foi a fachada leste, da Natividade, com elementos que evocam a vida. A fachada oeste é dedicada a Paixão e representa a dor, o sacrifício e a morte de Jesus, e a fachada sul, que será a principal quando ficar pronta, será dedicada a Glória e representará as consequências do pecado e da virtude e o céu que pode ser alcançado com orações.

Gaudí morreu em 10 de junho de 1926 no hospital, depois de não resistir aos ferimentos que teve por ter sido atropelado por um bonde 3 dias antes. O arquiteto foi enterrado no subsolo da Sagrada Família. Gaudí nos deixou um grande legado, através de suas obras, experiências e citações.

“Todo mundo encontra o que lhe diz respeito no Templo: os camponeses veem galinhas e frangos; os cientistas, os signos do zodíaco; os teólogos, a genealogia de Jesus; mas a explicação, a razão, só os competentes conhecem, e não devem ser divulgadas” (Gaudí)

Espero que tenham gostado! Até a próxima.

Fontes: (Joseph / Site Casa Vicens / Coleção Folha Grandes Arquitetos / Archidaily / Site Palau Guell / Gaudidesigner / Traveltipy / Barcelonaturisme / Barcelona / Site Oficial Park Güell / Site oficial Casa Battló / City Discovery / Taina Rehder / Google )

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